domingo, 10 de outubro de 2010

As Aparências Dizem Aquilo Que Quisermos



Cada boa qualidade humana está relacionada com uma má, na qual ameaça transformar-se; e cada má qualidade está, de uma forma semelhante, relacionada com uma boa. O motivo por que tantas vezes não compreendemos as pessoas é que, quando as conhecemos, confundimos as suas más qualidades com as boas com elas relacionadas, ou vice-versa: assim, um homem prudente pode parecer-nos cobarde, um homem poupado, avarento; ou um perdulário, liberal, uma pessoa grosseira franca e directa, um sujeito imprudente cheio de nobre autoconfiança, e assim por diante. 

Arthur Schopenhauer, in 'Aforismos' 

Verosimilhança não é Verdade



Quase sempre as suspeitas nos inquietam; somos sempre o joguete desses boatos de opinião, que tantas vezes põe em fuga um exército, quanto mais um simples indivíduo. (...) nós rendemo-nos prontamente à opinião. Não fazemos a crítica das razões que nos levam ao temor, não as esquadrinhamos. Perdemos todo o sangue-frio, batemos em retirada, como os soldados expulsos do seu campo à vista da nuvem de poeira que levanta uma tropa a galope, ou tomados de terror colectivo por causa de um boato semeado sem garante. 
Não sei como, mas as falsidades perturbam-nos desde logo. A verdade traz consigo a sua própria medida; tudo quanto se funda sobre uma incerteza, porém, fica entregue à conjectura e às fantasias de um espírito perturbado.
Eis porque, entre as mais diversas formas do medo, não há outra mais desastrosa, mais incoercível que o medo pânico. Nos casos ordinários, a reflexão é falha; nestes, a inteligência está ausente. 
Interroguemos, pois, cuidadosamente a realidade. É verosímil que uma desgraça venha a produzir-se? Verosimilhança não é verdade. Quantos acontecimentos ocorreram sem que os esperássemos! Quantos acontecimentos esperados que jamais ocorreram! Mesmo que venham a produzir-se, que é que lucraremos em nos anteciparmos à nossa dor? Sofrerás com muito maior presteza quando ela chegar. Enquanto esperas, imagina um futuro melhor. 
Que ganharás com isso? Tempo. Muitos incidentes poderão fazer com que o perigo próximo ou iminente se detenha, se dissipe ou caia sobre outra cabeça. (...) Há casos em que, sem o menor aviso prévio de uma catástrofe, o espírito forja falsas ideias: ou é uma expressão ambígua, que ele só interpreta em sentido desfavorável, ou é a magnitude de uma ofensa cometida que ele exagera, preocupado, aliás, não com a cólera de outrem, mas com o que poderá advir dessa cólera. 

Séneca, in 'Dos Reveses'
 

Aparências e Realidades



Todo o fenómeno tem, relativamente ao nosso entendimento e à sua potência de descriminar, uma realidade - quero dizer certos caracteres, ou (para me exprimir por uma imagem, como recomenda Buffon) certos contornos que o limitam, o definem, lhe dão feição própria no esparso e universal conjunto, e constituem o seu exacto, real e único modo de ser. Somente o erro, a ignorância, os preconceitos, a tradição, a rotina e sobretudo a ilusão, formam em torno de cada fenómeno uma névoa que esbate e deforma os seus contornos, e impede que a visão intelectual o divida no seu exacto, real, e único modo de ser. É justamente o que sucede aos monumentos de Londres mergulhados no nevoeiro... (...) Nas manhãs de nevoeiro numa rua de Londres, há dificuldade em distinguir se a sombra densa que ao longe se empasta é a estátua de um herói ou o fragmento de um tapume. Uma pardacenta ilusão submerge toda a cidade - e com espanto se encontra numa taverna, quem julgara penetrar num templo. Ora para a maioria dos espíritos uma névoa igual flutua sobre as realidades da Vida e do Mundo. Daí vem que quase todos os seus passos são transvios, quase todos os seus juízos são enganos; e estes constantemente estão trocando o templo e a taverna. Raras são as visões intelectuais bastante agudas e poderosas para romper através da neblina e surpreender as linhas exactas, o verdadeiro contorno da realidade. 

Eça de Queirós, in 'A Correspondência de Fradique Mendes'

O Sofrimento do Hipócrita




Ter mentido é ter sofrido. 0 hipócrita é um paciente na dupla acepção da palavra; calcula um triunfo e sofre um suplício. A premeditação indefinida de uma ação ruim, acompanhada por doses de austeridade, a infâmia interior temperada de excelente reputação, enganar continuadamente, não ser jamais quem é, fazer ilusão, é uma fadiga. Compor a candura com todos os elementos negros que trabalham no cérebro, querer devorar os que o veneram, acariciar, reter-se, reprimir-se, estar sempre alerta, espiar constantemente, compor o rosto do crime latente, fazer da disformidade uma beleza, fabricar uma perfeição com a perversidade, fazer cócegas com o punhal, por açúcar no veneno, velar na franqueza do gesto e na música da voz, não ter o próprio olhar, nada mais difícil, nada mais doloroso. 0 odioso da hipocrisia começa obscuramente no hipócrita. Causa náuseas beber perpétuamente a impostura. A meiguice com que a astúcia disfarça a malvadez repugna ao malvado, continuamente obrigado a trazer essa mistura na boca, e há momentos de enjôo em que o hipócrita vomita quase o seu pensamento. Engolir essa saliva é coisa horrível. Ajuntai a isto o profundo orgulho. Existem horas estranhas em que o hipócrita se estima. Há um eu desmedido no impostor. 0 verme resvala como o dragão e como ele retesa-se e levanta-se. 0 traidor não é mais que um déspota tolhido que não pode fazer a sua vontade senão resignando-se ao segundo papel. É a mesquinhez capaz da enormidade. 0 hipócrita é um titã-anão.

Victor Hugo, in "Os Trabalhadores do Mar"

quarta-feira, 6 de outubro de 2010

RESPONDEU A LÂMPADA


Era uma vez uma vela e uma lâmpada dividindo a mesma gaveta. A parafinada e sonhadora vela segurava um volume com o tema: "como tornar-se lâmpada", e logo ali ao lado, a transparente lâmpada lia recentes descobertas da Física.

Olhadelas furtivas fizerem com que a imcomodada vela perguntasse:

- Física?

- Sim! - respondeu a lâmpada.

- O que pretendes com tal tema? - perguntou a vela.

- Primeiramente obter informações! - respondeu a lâmpada.

Empolgada a lâmpada segue explanando: Você sabia que que o sol é composto primariamente de hidrogênio (74% de sua massa, ou 92% de seu volume) e hélio (24% da massa solar, 7% do volume solar), com traços de outros elementos, incluindo ferro, níquel, oxigênio, silício, enxofre, magnésio, néon, cálcio e crômio.
E que a luz solar demora aproximadamente 8 minutos e 18 segundos para chegar à Terra. Energia do Sol na forma de luz solar é armazenada em glicose por organismos vivos através da fotossíntese, processo do qual, direta ou indiretamente, dependem todos os seres vivos que habitam nosso planeta. A energia do Sol também é responsável pelos fenômenos meteorológicos, clima na terra, e...

- Para, para, para...este papo de física rouba minha energia! - disse a vela num tom irônico.

Justificando a vela disse: Sabe, estou apenas tentanto tornar-me  uma lâmpada como você! Levar claridade a um cômodo, clarear uma escrivanhinha, guiar pedestres na calcada durante a noite, estabelecer a sincrônia no vai e vem nas avenidas,  ficar piscando nas boates, clubes e bares, brilhar luxuosamente numa noite de gala.

- Entendo perfeitamente! - disse a lâmpada, retomando sua leitura...minutos depois, corroendo-se mortalmente a vela torna a perguntar:

Ainda não esta claro para mim tuas pretenções. Queres tornar-te um Einstein dos luzeiros?

- Se você fosse mais atenta, perceberia que o tema do meu livro é "como tornar-se sol". - responde certivamente a lâmpada.

Pense nisto.

Seu amigo Roberttus

segunda-feira, 27 de setembro de 2010

PALHAÇOS TAMBÉM CHORAM


O dia era de festa, meu irmão e eu havíamos representado brilhantemente nossas escolas num concurso de desenhos e slogans para uma campanha de higiene bucal em nossa cidade. Felizmente fomos vencedores, levando para casa uma "Caloi Cross" e duas medalhas, mas algo maior que minha euforia pelos prêmios, ficaria apartir daquele instante registrado na memória. 


Atrás do palco encontrei um palhaço sentado numa marquise, chorando copiosamente, balbuciando palavras sem sentido. Minha mente infantil não admitia ver uma criatura mágica como aquela, naquele estado deprimente. Inocentemente perguntei o motivo do seu choro, e se eu poderia ajuda-lo de alguma maneira; ele meio sem graça exugando algumas lágrimas, afirmou que tudo ficaria bem. Colocando-se em pé, ajeitando seu nariz vermelho, veio na minha direção passando a mão sobre minha cabeça, retomando em seguida seu  trabalho. 

Num mundo onde o sorriso tornou-se sinônimo de glamour e estatus, somos direta ou indiretamente pressionados a usar nossas máscaras, maquiar nossas tristezas quando algo não esta bem, rezando heroicamente o dito popular: O Show Tem Que Continuar! 

Ser tido como baixo astral, pessemista, depressivo, um poço de lamúria, certamente não é algo elevado para nossa natureza, porém sucumbir as exigências extremadas do grupo ou da mídia, tão pouco poderá produzir seres maduros, aptos ou capacitados para enfrentar dias de turbulência emocional. Mitos querem nos levar a crer que erros nas decisões diárias, funcionam como um alavanca contrária as realizações, evitando assim as chances da felicidade.  "Ninguém arquiteta sua destruição e se sente feliz por isto", é um outro argumento que uso geralmente para defender a idéia de que erros são na verdade tentativas de acertos, segundo a compreensão que cada indivíduo têm sobre a felicidade ou deseja obter dela.   

"O Maravilhoso Mágico de Oz"- obra clássica da literatura norte americana por Lyman Frank Baum, me faz pensar numa hipótese extremamente simples: Uma atitude autêntica consigo mesmo, sem máscaras ou representações teatrais, poderia ser o primeiro tijolinho amarelo rumo a descoberta desta tal felicidade, não crê você? 

Pense nisto!

Boa semana para todos. 

Seu amigo Roberttus

terça-feira, 7 de setembro de 2010

SIMPRES ou SIMLES?



O segredo do sucesso

"O sucesso é a soma de pequenos esforços - repetidos dia sim, e no outro dia também."(Robert Collier, frases de motivação)

Motivação e planejamento

"O planejamento é uma ferramenta administrativa, que possibilita perceber a realidade, avaliar os caminhos, construir um referencial futuro, estruturando o trâmite adequado e reavaliar todo o processo a que o planejamento se destina." (Autor Desconhecido)

Motivação para vencer

"Vencer é apesar de tudo que possa acontecer, acreditar nas pessoas e saber que por de traz de cada ato humano, por mais difícil que alguém possa parecer há sempre uma intenção positiva para consigo. Vencer é ter a esperança sempre renovada, lembrando que o sol nasce todos os dias e para todos. Vencer é ter um sentimento profundo de fé, força e perseverança mesmo em momentos difíceis." (Flavio Souza, frases de motivação)

Começar bem

"Viva a cada dia como se a vida estivesse começando." (Johann Goethe, motivação para um dia melhor)

A verdadeira felicidade

"Acredito que o objetivo da nossa vida seja a busca da felicidade. Isso está claro. Quer se acredite em religião ou não, quer se acredite nesta religião ou naquela, todos nós buscamos algo melhor na vida. Portanto, acho que a motivação da nossa vida é a felicidade."(Tenzin Gyatso, frases de motivação)

Perseverança

"Perseverança é o trabalho duro que você faz depois de ter se cansado de fazer o trabalho duro que você já fez." (Frases motivacionais de Newt Gingrich)

O sucesso não espera

"A vida é um longo caminho que começamos a trilhar desde o primeiro dia, no começo engatinhando, depois caminhando passo a passo até conquistarmos a confiança necessária para correr, sim, correr, pois o caminho é longo e o sucesso não espera."(Luis Alves, frases motivadoras)

Simplesmente, sorria!

"Sorria. O sorriso ajuda-nos a descobrir motivos de alegria em volta de nós. Nossa alegria contagia os outros e a vida fica melhor." (Autor desconhecido)

Sem segredo!!!

""Se você sabe aonde quer chegar na vida e não tem um bolo no forno, entao vai CARALHO." - Roberttus


quinta-feira, 2 de setembro de 2010

DESCOBERTO



A Turma do Charlie Brown e Snoopy é uma série animada de televisão que apresentava os personagens de Charles M. Schulz. Ela foi ao ar, originalmente, de 1983 a 1985 pela rede CBS americana. Cumpunha a turma: Charlie Brown, Snoopy, Woodstock, Linus, Lucy, Sally, Schroeder, Patty Pimentinha, Marcie, Franklin, Chiqueirinho, Rerun e Violeta. 


LINUS DEDO NA BOCA E COBERTOR
Linus é tão inseguro que vive chupando o dedão. Fetichista: agarra-se ao seu cobertor como um náufrago ao salva-vidas. Um cobertor que acaba imundo, mas que ele não larga, e jamais abandonará. Um dia as meninas resolveram agarrá-lo, tomar o cobertor e lavá-lo. Linus ficou em estado de choque até que devolveram o cobertor. E mesmo depois disto continuou cabisbaixo, macambúzio, na fossa. E quando Lucy disse a ele que aquilo era uma atitude infantil, ele retrucou: "É? Como é que você se sentiria se tivessem feito uma lavagem cerebral no seu melhor amigo?".
Linus é emocionalmente instável, mas intelectualmente precoce, fiel admirador de sua professora Miss Othmar. Seu principal problema é o principal problema de quase todo o mundo hoje em dia: segurança. E ele tem consciência de que a segurança é cada vez mais difícil. Resultado: as únicas coisas que o defendem de precipitar-se no caos psíquico são o seu dedão e aquele maravilhoso cobertor, que não o impedem de ser um intelectual, o filósofo da turma.
Onerado de todas as neuroses, e a instabilidade emotiva seria a sua condição perpétua, se, com a neurose, a sociedade em que vive não lhe tivesse oferecido também os remédios: Linus carrega aos ombros Freud. Individuou, no seu cobertorzinho da primeira infância o símbolo de uma paz uterina e de uma felicidade puramente oral. De dedo na boca, e cobertor encostado a uma das faces (possivelmente de televisor ligado, diante do qual fica empoleirado como um índio, mas, no extremo, nada, um isolamento de tipo oriental, apegado aos próprios símbolos de proteção), Linus encontra o seu "sentimento de segurança".
Enquanto Minduim (Charlie Brown) não consegue construir um "papagaio" que não se precipite entre os ramos de uma árvore, Linus revela, de repente, em certos momentos, habilidades de ficção científica e vertiginosas maestrias: constrói jogos de alucinante equilíbrio, atinge no vôo uma moeda de um quarto de dólar com a ponta do cobertor que estala como um chicote.

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ROBERTO ^^DESCOBERTO
Eu tinha mais de vinte anos de idade, quando numa proveitosa conversa com minha mãe sobre a infância, descobri que eu tinha muito haver com a personagem „Linus“ da turma do Charlie Brown.
Mesmo sem entender patavinas alguma de psicologia, todavia inteligente emocionalmente, dona Helena identificava naturalmente as diferentes personalidades dos filhos: Roberto, Marco Antônio e Luiz Adriano.
Adriano o mais novo durmia tranquilamente após uma sessão de afagos na testa, Marcos após brincar até a exaustão durmia sem preocupações no lugar onde estivesse e eu, não durmia sem meu cobertozinho. Não me recordo da cor dele, mas lembro que ele era felpudinho e longo a ponto de arrastá-lo pelo chão para lá e para cá como uma calda de crocodilo. Para comer, dormir, brincar, passear e tomar banho, lá estava o cobertor do Roberto, produzindo harmonia e segurança.
Anos se passaram até que eu pudesse entender que a segurança e a felicidade não advém daquilo que podemos segurar ou reter - mas do desapego. "Praticar o desapego requer esforço, boa vontade e coração aberto. Não encare como uma bobagem, mas sim como algo que terá reflexos na sua vida como um todo. Abrir mão de entulhos é uma forma de criar espaço físico e mental para que coisas novas, e boas, entrem na sua vida. Algo velho se vai, algo novo que vem."

O tempo passou, abandonei meu meu xodó, meu membro postiço, meu cobertozinho, todavia emocionalmente ainda me sentia preso a ele de alguma forma. Desde então ver-se livre dos hábitos antigos, das manias, dos dengos emocionais, tem sido minha maior meta e a luta de muitos. 


Pense nisto.
Seu amigo Roberttus

quarta-feira, 1 de setembro de 2010

MUNDO CAO


A expressão "mundo cão" me faz pensar que nem tudo na vida é uma mar de rosas. ^^

        Era uma manhã de sábado quando eu e meu irmão Marcos voltávamos da igreja  atravessando um largo terreno baldio uns quinhentos metros da nossa casa, quando nos deparamos com uma moitinha de capim uivante...uuuuuuuuuuuuuuuu...uuuuuuuuuuuuuu...uuuuuuuuuuuuuu.  Impulsivo Marcos foi verificar o que era, eu me mantive distante para variar, para nossa surpresa uma cachorrinha pestiada, olhos remelentos e esquelética se mostrou.

Coitadinha! Vamos levar e cuidar dela. - disse Marcos.

Você só pode estar brincando não é? - indaguei. 

Nossa mãe não vai gostar nada disto! - afirmei. 

Não podemos deixar ela aqui para morrer! - "snif" retrucou.  

Além do mais como pretende levar ela? - repliquei. 

        Logo adiante uma sacola de plástico nos ajudou a resolver parte do problema que estava apenas começando. Em casa nos fomos diretamente para o quintal, improvisando embaixo de um pé de laranjeira  uma casinha com restos de madeira. Logo que meu outro irmão Adriano tomou conhecimento do que se passava, tornou-se aliado fiel do Marcos. Eu me mantinha distante de tudo, pois temia uma bronca gigante por ser o mais velho do trio. A movimentação era grande: separar comida, dar água, trocar os panos da "pestiadinha" não era tarefa fácil. Apenas dois dias durou a secreta operação "Bom Samaritano", a confusão finalmente estava armada. 

        Não preciso dizer o quanto a dona Helena ficou indignada, pior ainda por se tratar uma de  fêmea. Imaginem as caras e bocas dos meus irmãos tentando defender o desgraçado animal. Graças a Deus coração de mãe é mole, minutos depois ela preparava um mistura de carvão com óleo para a enrrugada e fétida pele do animal. Para curar internamente ela colocava na comida pequenas doses de enxofre. Acreditem vocês, em menos de dois  meses a moribunda havia recuperado seu pelo marron dourado e a verde  tonalidade dos seus olhos. Com o tempo "pestiadinha" passou a se chamar "Lilica" e até hoje me recordo da grande lição de amor e interesse que deveríamos ter pelas criaturas, incluindo certamente a humana.  

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        A mulher Cananéia de Mateus 15:21-28   é um emocionate relato bíblico movido por uma  fé encorajadora. Mesmo vislumbrando esse gesto de profundo apelo, Jesus insiste em dizer que não pode ajudá-la: “Não fica bem tirar o pão dos filhos para jogá-lo aos cachorrinhos”. No entanto, a   fé em Jesus e o amor profundo de mãe, faz com que essa mulher saiba responder a Jesus: “É verdade, Senhor, mas os cachorrinhos também comem as migalhas que caem da mesa de seus donos!”.
        
        A primeira vista pode-nos parecer que Jesus manteve-se com um coração duro, e diríamos até insensível, perante essa mãe que clamava auxilio. Porem devemos nos lembrar que Deus se utiliza das mais mirabolantes formas para ensinar-nos seu Reino. Neste sentido, Jesus vale-se desta situação com sutileza irônica. Como já foi dito, Jesus estava sempre cercado por judeus. Cachorrinho era a forma que eles chamavam os gentios. Assim, Jesus chamando-a nos mesmos termos consegue evocar para si a atenção dos judeus, para mais uma vez, dar-lhes um belo ensinamento. 

Gratos por saber que somos especiais para Deus e que de modo algum a rejeição faz parte do seu carater.

Pense nisto.

Seu amigo Roberttus

terça-feira, 31 de agosto de 2010

O NÁUFRAGO


No filme "O NÁUFRAGO", lançado no ano 2001 pela  20th Century Fox e DreamWorks, Tom Hanks interpreta Chuck Noland, um engenheiro de sistemas do FedEx, cuja vida pessoal e profissional são controladas pelo relógio. Seu trabalho o leva, na maioria das vezes de um instante para o outro, para locais bem distantes - e bem longe de sua namorada, Kelly. Essa louca existência de Chuck termina abruptamente quando, depois de um acidente de avião, ele fica isolado numa ilha distante - um náufrago no ambiente mais desolado que se possa imaginar. Sem as conveniências da vida diária, primeiro ele tem que encontrar meios de suprir as necessidades básicas para a sua sobrevivência, incluindo água, comida e abrigo. Chuck, aquele que consegue resolver todos os problemas, acaba descobrindo como sobreviver fisicamente. Mas e depois?

Chuck começa sua verdadeira viagem ao enfrentar a provação emocional do isolamento. Após quatro anos, Chuck volta para a civilização como um homem profundamente mudado. Ele percebe que perder tudo o que tinha e o que achava que era importante foi a melhor coisa que poderia ter lhe acontecido.

Existe em cada um de nós um pouco ou muito de Chuck Noland. Parece que vinte e quatro horas não tem sido o suficiente para definir o que é prioridade ou necessidade em nossas vidas tolas. As cobranças da sociedade, o consumismo e a busca por melhor qualidade de vida tem tornado nossos sonhos em pesadelos, nossa paz em ansiedade e a tão almejada felicidade numa meta inatingível. 

Baseado no filme de Hanks, compus o poema que divido agora:

O NÁUFRAGO

A lógica de tudo é que não existe lógica para tudo
A tragédia é apenas um momento entre o antes e o depois.
A sobrevivência é quando a morte falha e o milagre prevalece

Pela lógica eu não deveria estar aqui falando com você...

Dominei o fogo, pesquei o peixe, subi a montanha. Fiz da solidão minha companhia e dos uívos do vento minha canção de ninar

Pela lógica eu não deveria estar aqui falando com você...

A esperança foi trazida pela maré numa manhã qualquer. Asas me fizeram livres da cadeia sem muros que me aprisionavam

Pela lógica eu não deveria estar aqui falando com você...

Anos se passaram até que eu pudesse descobrir que o tempo é agora e não depois. A ironia de tudo é que o amor não compreende a sutileza da sua própria essência, e  nem sempre  é  tão forte quanto a esperança

Pela lógica eu não deveria estar aqui falando com você...

Você me enterrou ainda vivo, seguro que seus olhos nao podiam me ver. Um outro  ocupa agora o lugar e o tempo que um dia poderiam ter me pertencido

Pela lógica eu não deveria estar aqui falando com você...

Perdi meu amor, meu amuleto de pescoço, todavia a solidão me trouxe lucides, maturidade, me trouxe asas. Prestarei mais atenção no hoje, viverei menos no futuro, visitarei com regularidade o passado. Qualquer forma de tragédia não se compara ao ato de peder o tempo para amar

Pela lógica eu não deveria estar aqui falando com você...

Decido continuar respirando, decido continuar sobrevivendo

Pense nisto.
seu amigo Roberttus

sábado, 28 de agosto de 2010

QUANDO EU ERA MENINO

"Quando eu era menino, falava como menino, sentia como menino, discorria como menino, mas, logo que cheguei a ser homem, acabei com as coisas de menino." - 1 Coríntios: 13: 11

Cada vez que leio o verso acima de Paulo, enrolo um cacho de cabelo no dedo. Quando eu era criança, eu queria ter dezoito anos, mas agora tenho trinta e cinco não há como voltar a ter sete anos. Que confusão mental, eita biologia medonha, pelo menos me é permitido pensar nas coisas da infância. 

Não é fácil ser adulto. Na vida real a bela adormecida só dorme a base de calmantes, a branca de neve é queimada do sol e vive num barraco improvisado com sete crianças famintas, o Pinóquio é um político cara-de-pau que na realidade não quer ser gente, a "bela" é uma "fera", vítima das diétas e escrava da moda, a Alice não vive no país das maravilhas mas da um duro danado limpando o penico dos outros para defender o arroz e feijão do Joãozinho e Maria que não estão perdidos na floresta, mas vendendo Halls e chicletes no  cruzamento  de alguma avenida turbulenta.

Ficou triste?

Fica não!

Imaginação, eis o diferencial. O aspecto que mais admiro na infância está na capacidade ingênua que as crianças possuem em enxergar cada detalhe do dia-a-dia de maneira espontânea, vivaz, talvez por ainda não terem sido bitoladas pela visão racionalista dos adultos.

Algumas lembranças podem soar tolas hoje, mas ao mesmo tempo me dão saudades de uma época na qual eu era menos cético e mais inocente.

* * * * *
1) Quando eu era criança, acreditava que um dia poderia responder a pergunta daquele comercial de bolachas: "Tostines vende mais por que é fresquinho ou é fresquinho por que vende mais? Até hoje nem eu e nem as zebras sabemos a resposta. 

2) Quando eu era criança, assistia aos desenhos do "Mutley", um cachorro muito esperto e especial pela sua risada sinistra, onde vive salvando "Dick Vigarista" sempre em troca de uma medalha. Uma das maiores frustrações de minha infância foi essa: participar de um campeonato de futebol com minha classe recebendo posteriormente uma medalha, e nela continha a imagem de São Cristovão. Ninguém merece.

3) Quando eu era criança, minha mãe dizia que eu devia cuspir as sementes de melancia, porque se engolisse uma delas por acidente, nasceria um pé dentro do meu estômago. Quando engolia uma ou outra acidentalmente ficava bem preocupado. 

4) Quando eu era criança morria de medo do escuro. Queria me ver assombrado era só apagar as luzes. Nossas janelas eram de madeira, impedindo que a luzes dos postes da rua pudessem clarear o quarto.  Durante a madrugada quando não podia dormir por causa da densa escuridão, eu abria parte da janela correndo o risco de um ladrão entrar em casa ou ficava com um isqueiro embaixo das cobertas. Fiquei muito contente quando meu pai trocou as janelas de mandeira por vitrôs de metal. 

5) Quando eu era criança, acreditava que sempre chovia nos dias de Finados. E que essa chuva era na verdade as lágrimas derramadas pelos mortos que ficavam emocionados ao ver suas famílias visitando (ou não) seus túmulos.

6) Quando eu era criança, minha mãe dizia que se eu imitasse um aleijado eu ficaria da mesma maneira para sempre. Talvez seja por isto que fui castigado mais tarde com uma paralisia facial me pregando um tremendo susto . Graças a Deus me recuperei. Não brinco mais. 

7) Quando eu era criança, me apaixonei irremediavelmente pela She-Ra, irmã gêmea de He-Man. Meu prazer era desenhar e pintar a poderosa barbie  defensora do castelo de cristal. Talvez seja essa a razão da minha atração por loiras, sejam elas oxigenadas ou não.

8) Quando eu era criança, morria de medo de ficar engasgado com uma bala Soft.Certo dia, imagine: realmente me engasguei com uma que ficou entalada na garganta. Fiquei tão desesperado que comecei a me debater como um peixinho fora d´água; no susto, enfiei o dedo na garganta até engolir a maldita. Nunca mais pus uma Soft inteira na boca, sempre quebrava em pedacinhos e chupava com muito cuidado. 

9) Quando eu era criança, não conseguia entender como funciona o tal do Amor (aliás, até hoje não sei direito se é de comer ou de beber). Ficava olhando alguns cartões tentando entender  o que uma menininha e um menininho pelado aliado a inscrição "AMAR É..." realmente queriam dizer. Eu concluia que "AMAR É..." tinha alguma coisa haver com o mar quando sobe do nível. ^^ 

10) Quando eu era criança, amava os chocolates Surpresa da Nestlé. Eu colecionava os cromos temáticos que tinham detalhes da biologia de animais variados, além é claro de ser um chocolate delicioso. Grana curta, certa vez deixei de comprar algumas coisas para o almoço para comprar o hiper, mega e ilustrado chocolate. Desconfiada minha mãe e eu regressamos ao mercado, resultado passei o maior mico diante do gerente e levei umas palmadas por merecimento depois. 

seu amigo Roberttus